Riscos na estrada

Riscos na estrada

30 de março, 2017

Riscos na estrada

As normas ambientas brasileiras determinam que os caminhões produzidos a partir de 2012 utilizem um sistema de redução de emissões de poluentes e um tipo de óleo diesel ambientalmente correto. Mas este novo sistema necessita de um reagente chamado Arla 32 que aumenta o custo das viagens. Apesar de ninguém admitir, sabe-se que os motoristas estão adulterando o produto para economizar ou instalando um chip que engana o computador de bordo do caminhão. 

A prática, segundo a Associação dos Engenheiros Automotivos (AEA), além de prejudicar o meio ambiente, compromete o desempenho do veículo e prejudica a parte eletroeletrônica. 
O Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), determinou limites de emissões de poluentes pelos veículos leves e pesados movidos a diesel. Esses limites são baseados no programa Euro 5, como é conhecido na Europa, ou P7, no Brasil. 

Para colocar em prática esses limites, as montadoras adotaram duas tecnologias. O CSR (catalisador para redução de óxidos de nitrogênio - NOx), usado pelos veículos pesados. E o EGR, que usa um processo de recirculação dos gases para reduzir a emissão de NOx. Esse sistema foi adotado pelas montadoras de veículos leves. 

A grande reclamação dos caminhoneiros é que o SCR precisa do reagente Arla 32 para auxiliar na redução do NOx e o veículo só pode utilizar o diesel S10, que tem menor concentração de enxofre, mas é mais caro que o S500. O caminhoneiro Armando Veit, de 47 anos, afirma que o uso do Arla aumenta em 5% dos custos da viagem. "A cada duas abastecidas tenho que colocar o Arla", reclama. A preocupação dele é com a qualidade do produto oferecido pelos pontos de venda. Ele conta que, mesmo cuidando para usar produto com selo de qualidade, nem sempre é possível comprovar a qualidade do que se está usando. 

Arla fora dos padrões podem danificar o caminhão e também aumentar o consumo do produto e de combustível. Veit reclama que o diesel S10 é entre R$ 0,10 e R$ 0,12 mais caros que o S500. "Já gastamos com o Arla, então o diesel devia ser mais barato. Quando você coloca tudo na ponta do lápis o custo é muito alto. Se é para o bem da natureza como dizem, então por que os caminhões mais antigos também não são obrigados a usarem?", questiona. 

O caminhoneiro diz conhecer histórias de companheiros de estrada que burlam o sistema ou utilizam produtos feitos "em casa". "Um conhecido gastou em torno de R$ 20 mil para trocar o sistema e disse que, mesmo com esse gasto, a economia que fez em Arla compensou o custo do conserto do caminhão. Então, pensa como isso é caro", ressalta. Veit também alega que há casos de transportadoras que estão fabricando a própria solução para economizar. 

Valdemir Radigonda, gerente do Posto Portelão, em Cambé, afirma que o consumo do produto vem caindo, assim como o de combustível. Ele está vendendo em média 3 mil litros de Arla por mês. E costumava vender até 2 mil litros a mais por mês. 
 

REDUÇÃO DE POTÊNCIA 

O Arla tem um tanque próprio e o sistema é formado pelo catalisador, um sensor de emissão e uma central eletrônica que cuida da injeção do produto. Com o Arla, os resíduos gerados pela queima do diesel são transformados em nitrogênio e água, bem menos poluente. O produto é composto por ureia e água desmineralizada, mas muitos caminheiros estão adulterando ou fabricando o seu próprio produto colocando em risco o desempenho do veículo. 

Segundo os engenheiros, não usar o Arla, usar o produto fora dos padrões ou abastecer o caminhão Euro 5 com o diesel S500 são fatores que podem reduzir em 40% da potência do veículo. A central elétrica do caminhão identifica o tipo de combustíveis. "O que os motoristas andam fazendo é compra um galão de Arla, colocar só metade e completar com água. Isso causa problema no sistema. Normalmente, dá problema na válvula dosadora e problema no sistema eletrônico do caminhão. A perda de 40% de rendimento em um caminhão vazio é uma coisa. Em um caminhão carregado ele anda se arrastando na estrada", comenta Marlon Adami, gerente geral da PB Lopes, concessionária Scania em Londrina. 

A redução de potência também impacta no bolso do caminheiro, pois o consumo de combustível aumenta. O sistema custo em torno de R$ 18 mil e sua manutenção sai caro. "Quando você adiciona água na proporção errada você adiciona ferrugem, corrosão e pode ter um custo, só de equipamento, fora mão de obra de R$ 18 mil", ressalta Adami. 

CRIME AMBIENTAL 
Os prejuízos podem ir além da manutenção do caminhão. Como o uso do Arla 32 para os caminhões fabricados a partir de 2012 é determinado por lei, o motorista que for flagrado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) sem o uso do produto será multado e pode ter o caminhão apreendido. "É um crime ambiental. O caminheiro pode até ser preso e o dono da transportadora responder processo por crime ambiental", diz o gerente. 

Ele afirma que correm boatos de oficinas na região de Maringá que estão instalando o chip que burla o sistema SCR, mas de acordo com ele, a PRF tem pego alguns casos em blitz. 

O SCR é o sistema mais moderno em termos de controle de emissões, mas já se estuda a adoção do Euro 6, um sistema que combina o SCR com o EGR. A Scania tem alguns caminhões com esse tipo de tecnologia sendo testados no Brasil desde 2008. 

Prejuízo para a sociedade 
Os veículos e motores da Volvo produzidos no Brasil são um espelho dos utilizados na Europa, mas com adequações para as peculiaridades do país, como um clima mais quente e distâncias maiores. O engenheiro de vendas da montadora Ricardo Tomasi explica que foi feito uma adaptação no software utilizado pelo sistema SCR para garantir a performance dos caminhões. 

Os tanques de Arla 32 da Volvo têm uma autonomia de 90 litros. Para acomodar o tanque, a montadora fez mudanças no chassi. "Foi preciso encontrar espaço de forma que trouxesse autonomia, pois o tanque tem peso extra", explicou Tomasi. 

Adotar as normais brasileiras representou um aumento de custo de produção entre 10% a 20% do Euro 3 para a Euro 5. Segundo o engenheiro, esse custo não foi repassado ao cliente, em função de mercado. 

Ele enfatiza os benefícios ambientais do Euro 5 e lembra que as tentativas de fraude do sistema é prejudicial ao desempenho do veículo e ao meio ambiente. "Quando você deixa de usar o Arla você cai do Euro 5 para o Euro 0. Daí, voltamos para os patamares de emissões de poluentes de 20 anos atrás. É um custo para a sociedade e para a toda cadeia, que teve um custo para adotar esse sistema", ressalta. 

Todo o sistema é controlado por um dispositivo chamado On Board Diagnosis (OBD), que assegura que os níveis de emissão de poluentes se mantêm dentro dos limites legais ao longo da vida útil do veículo. (A.M.P)

 

Fonte: Aline Machado Parodi/Folha de Londrina
 

 

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