Preço dos combustíveis no Brasil podia ser menor, mas isso depende de vontade política

Preço dos combustíveis no Brasil podia ser menor, mas isso depende de vontade política

08 de julho, 2022

Nas últimas semanas de junho, os motoristas do Paraná (e de outros estados) se depararam com a redução nos preços dos combustíveis. Isso ocorreu por conta da medida adotada pelo governo federal que zerou os 9,5% de impostos como PIS, Cofins e Cide. Ainda, uma nova queda nos preços da gasolina ocorreu essa semana, com a redução de outro tributo, o ICMS, de 29% para 18%.

Independentemente desta questão envolvendo impostos, outra medida, que também depende da boa vontade dos políticos, pode colaborar para diminuir o preço do etanol. Basta o Brasil explorar o seu potencial de geração de combustíveis a partir de fontes renováveis, como a soja e o milho.

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 15/2022, já aprovada pelo Senado, assegura aos biocombustíveis alíquotas de tributos mais vantajosas do que as aplicadas a combustíveis fósseis, caso do petróleo. Ou seja, colocar em prática a PEC dos Biocombustíveis resultaria na redução do preço do etanol. Outro ponto a favor é que, ao invés de importar petróleo com o dólar na casa dos R$ 5, o Brasil utilizaria parte da sua produção de grãos.

Além da economia para o bolso dos motoristas, a exploração de biocombustíveis também traz vantagens ambientais e sociais. Afinal, a soja e o milho são matérias-primas de alta qualidade, renováveis, sustentáveis e limpas. Por exemplo, uma tonelada de milho permite produzir 430 litros de etanol, 360 quilos de farelo de milho e, em menor escala, óleo de milho. Já no caso da soja, o óleo responde por 71,4% das matérias primas para produção de biodiesel. No social, esses grãos ajudariam a gerar mais empregos e renda no campo.
Mas, se há diversos benefícios, por que o Brasil ainda não intensificou a exploração desses grãos para produção de biocombustíveis? A resposta esbarra provavelmente na vontade (ou a falta dela) dos políticos. Afinal, legislação já existe, basta colocá-la em prática.

Conforme a Resolução 16, de 29 de outubro de 2018, do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), os percentuais obrigatórios de mistura do biodiesel ao diesel mineral teriam que evoluir gradativamente ano a ano. Em 2022, essa mistura comercializada nas bombas deveria atingir a proporção de 14% (B14) de biodiesel e 86% de diesel de petróleo. Porém, sem a tal da boa vontade política, o governo federal vem mantendo a mistura em 10% (B10), deixando de utilizar soja e milho e comprando petróleo no mercado internacional.

Por outro lado, o setor industrial brasileiro investiu R$ 10 bilhões nos últimos anos contanto com o aumento na porcentagem do biodiesel adicionada ao diesel comum. Como o índice não aumentou, o Brasil deve produzir cerca de 6 bilhões de litros biodiesel esse ano, enquanto a capacidade industrial é de 13 bilhões de litros/ano. Ou seja, a indústria está ociosa e o preço do combustível segue alto para os motoristas.
Boas novas?

Um grande amigo, leitor assíduo da coluna, volta e meia comenta que parte dos temas abordados neste espaço não traz boas novas. Recentemente, estradas abandonadas, altas nos preços dos alimentos, falta de reciclagem do lixo nas cidades e inflação corroendo o bolso do consumidor pautaram este colunista. Ele está certo! Mas, diante da falta de vontade política, como a retratada acima, resta explicar ao meu amigo (e outros leitores) os motivos de estarmos pagando caro para encher o taque do carro e torcer para boas novas o mais breve possível.

Por Carlos Filho – Tribuna do Paraná 
Foto – Tribuna do Paraná 
 

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