AGÊNCIA ESTADO - Economistas divergem sobre entrada na OCDE

AGÊNCIA ESTADO - Economistas divergem sobre entrada na OCDE

25 de março, 2019

A opinião dos economistas é divergente sobre o possível ingresso do Brasil na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Há quem defenda que ser membro pleno trará ao Brasil um selo de qualidade e confiança, que poderá atrair investimentos estrangeiros, e há aqueles que afirmam que ainda é cedo para o País abrir mão do status de país em desenvolvimento.

O “X da questão” está na contrapartida que o governo norte-americano exigiu para apoiar a entrada do Brasil na OCDE: abrir mão do tratamento diferenciado que os países em desenvolvimento recebem na OMC (Organização Mundial do Comércio). A exigência foi aceita pelo presidente Jair Bolsonaro.

A OCDE reúne os países mais industrializados do mundo e estabelece parâmetros conjuntos de regras econômicas e legislativas para os membros. Segundo comunicado dos dois presidentes divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores no começo da semana, Donald Trump elogiou os esforços do Brasil para reformar a economia e alinhar as práticas e os marcos regulatórios e manifestou apoio para que o Brasil inicie o processo de adesão.

O economista Francisco Américo Cassano, professor da Universidade Mackenzie, argumenta que a decisão brasileira demonstra uma declaração de independência econômico-financeira. “O país adquire um selo de qualidade que indica maior confiabilidade e abertura para os investimentos estrangeiros, não apenas de capital financeiro, mas também tecnológico. Isso é importante para que o país crie uma nova perspectiva de crescimento”, afirmou Cassano.

O status de país em desenvolvimento permite que o Brasil tenha algumas taxas preferencias de exportação, o que significa que os produtos brasileiros possam ingressar em outros países com taxas inferiores do que as pagas por nações desenvolvidas. Mas, na avaliação do professor, a economia brasileira está madura e não há mais necessidade desta condição.

“Estamos usando uma vantagem que não deveríamos utilizar. Estamos deixando de ser adolescentes para sermos adultos. É isso que o governo norte-americano está nos pedindo: Queremos fazer parte dos países mais ricos ou não? Fazendo parte, conseguiremos ter novas perspectivas de investimentos e avanços tecnológicos. Para isso, temos que abrir mão da nossa condição de adolescentes”, ponderou.

Ele avaliou que, na atual situação econômica nacional o grau de atratividade de investimentos é muito baixo. “Perdemos o grau de investimentos pelas agências classificadoras de risco e isso repercute negativamente no mercado financeiro internacional. Esse selo de qualidade dado pela OCDE significa um grau de confiança e que o país é capaz de resolver todas as suas pendências e se tornar uma economia mais favorável aos investimentos”, disse.

O economista Mauro Rochlin, professor dos MBAs da FGV (Fundação Getúlio Vargas), considera que a entrada no OCDE é muito mais simbólica do que efetiva em termos do que pode gerar para a economia brasileira no curto e médio prazo. “Serve mais para que o governo mostre ao resto do mundo que a orientação é mais liberal, que abre mão de mecanismos protecionistas”, declarou. E completou, “acho que é muito cedo para abrir mão completamente das prerrogativas de poder eventualmente subsidiar algum setor industrial. Entendo que a abertura deve acontecer, mas não pode ser feita de maneira ingênua”.

OMC diz não entender que Brasil abriu mão do status de país em desenvolvimento

O diretor-geral da OMC, Roberto Azevêdo, disse no último dia  21 que não entendeu, pelo comunicado oficial da visita do Brasil ao governo americano, que o País tenha aberto mão do status de país emergente e, portanto, deixado de receber o tratamento especial conferido pela OMC a esse grupo.

Segundo ele, o que o Brasil aceitou foi "abrir mão de usar alguns espaços daqui para frente". Destacou, no entanto, que os detalhes do acordo têm que ser respondidos pelo governo brasileiro. Azevêdo defendeu uma aproximação do Brasil com a OCDE e destacou que a organização é importante não só por dar um selo de qualidade ao grupo que a integra, mas por ter o papel de definir a agenda mundial do comércio.

O diretor-geral da OMC disse também que o Brasil deve buscar outras oportunidades de comércio "de forma pragmática", em acordos com outros países, "onde quer que elas se apresentem". Ponderou, no entanto, que, sem a mediação da organização, haveria uma "lei da selva" no comércio mundial e todos perderiam, "mesmo os que pensam estar no topo da cadeia alimentar".

Azevêdo minimizou também as críticas do presidente Donald Trump à instituição. Ele afirmou que o chefe de Estado americano se utiliza de uma retórica forte para defender, na realidade, uma atualização nas regras da OMC, que reflete ainda um quadro global do comércio da década de 1990.

O diretor-geral disse ainda, que os Estados Unidos elogiam internamente o papel da OMC. E explicou que os americanos argumentam que não querem negociar com países que se transformaram em economias mais fortes nos últimos anos e mesmo assim têm tratamento diferenciado pela OMC.  

Fonte: Agência Estado Foto: Divulgação

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